quarta-feira, 25 de maio de 2022

Mitologia Grega nos Filmes de Heróis.

    Desde que comecei a estudar os clássicos comecei a enxergar clássicos em tudo quanto é lugar, dando destaque para as obras homéricas - Ilíada e Odisseia-(Amazon). Comecei a notar que essas obras são clássicas justamente pelo fato de que ainda não esgotaram seu conteúdo acerca do povo grego antigo, e também foi através delas que grande parte da literatura ocidental -ou talvez toda ela- obteve seus arquétipos, que podem ser combinados de todas as formas. As obras de Hesíodo - Teogonia e Trabalhos e Dias- também deram sua contribuição para as obras que vieram depois. No caso da Eneida de Virgílio, já é uma consequência do que estou abordando aqui, uma emulação da Ilíada e Odisseia voltada para o povo romano, uma combinação das duas obras homéricas para exaltar a fundação de Roma criando um mito fundador para o Império (destino manifesto?), tanto que ao ler é fácil perceber que a obra de Virgílio se divide em uma parte "ilídiaca" e outra "odisseica".

     O que é mais legal nisso tudo, para nós, pessoas deste tempo, é que as obras literárias adquiriram uma nova forma de difusão o que chamamos "cultura pop". Sim, amigos, a cultura pop se valeu e vale até hoje das obras clássicas, e se você é daqueles que diz que não vai ler os clássicos porque é chato bem, o que você vai encontrar neles são as histórias já contadas pela Marvel ou DC e vários outros filmes de Hollywood. Ou se você é alguém que gosta de literatura infanto-juvenil como Senhor dos Anéis e Harry Potter, você vai encontrar nos clássicos gregos todo o substrato usado para criar essas histórias. O Silmarillion, por exemplo, foi claramente inspirado na Teogonia e a trilogia de O Senhor dos Anéis na Ilíada, óbvio que é possível combinar as situações para criar outras, mas a referência aos clássicos está lá.  

   Vou tentar exemplificar algumas situações que mostram a inspiração nos clássicos e me ater apenas as obras homéricas. Uma das características do épico, gênero em que são compostos os clássicos supracitados, é justamente a narração dos feitos de homens ditos "superiores". Uma coisa que é comum a esses homens superiores é que todos não fazem nada além de agir de forma heroica, observem que nos filmes ou HQs dificilmente encontramos um herói que trabalha, quando isso acontece serve apenas de pano de fundo para seu ato heroico. De onde você supõe que isso foi tirado? Outro aspecto bastante presente é o fato de as personagens nunca fazerem uma refeição completa. A Ilíada compõe o cenário perfeito para as personagens demostrarem seus dons superiores, um ambiente de guerra onde fazer uma refeição não iria dizer muita coisa sobre aqueles indivíduos, apenas que “ele tem um aparelho digestivo igual ao meu, legal.”  Quantas vezes os Vingadores fizeram uma refeição completa? Eu lembro só de duas garfadas e depois, AÇÃO! – Ilíada-.

      Outra coisa que os filmes de heróis inspirados em HQs fazem logo de cara é colocar o espectador em três ordens diferentes: divino (ou cósmico), heroico e humano (não necessariamente nessa ordem). Lembram-se do proêmio dos Vingadores? Loki, tesseract (ordem divina/cósmica); logo em seguida Nick Fury apresenta seu ponto de vista para o vilão e depois tenta reunir os Vingadores (humano); por fim são apresentados os integrantes da iniciativa Vingadores (heroico). Isso foi criado por Homero na Ilíada, observem o Canto I (1-10). Ainda no primeiro filme da franquia Vingadores podemos notar outra inspiração clara no clássico homérico, a cólera. Isso mesmo, a cólera que é a “ação una” (é a ação central em torno da qual gira, ou para onde convergem, as demais ações) da Ilíada também é encontrada nos Vingadores e em outros trocentos filmes, no caso da Ilíada tem-se a cólera de Aquiles por Agamêmnon e em Vingadores a cólera de Loki por absolutamente tudo.

     E para agradar gregos e troianos, vou citar um exemplo de como a DC também bebeu na fonte dos clássicos homéricos. Na DC temos a disparidade entre dois heróis Superman e Batman. Se você pegar Ilíada e Odisseia notara que existe uma diferença na definição de  “homens melhores”. Na Ilíada esses “homens melhores” ou “superiores” são comandantes militares e semideuses, na Odisseia são pessoas comuns.  Outra diferença entre as duas obras é a mudança no paradigma de heroicidade, na Ilíada temos a força representada por Aquiles (um semideus) enquanto na Odisseia a característica principal é a astúcia representada por Odisseu (apesar de não portar tanta força física). Bom, acredito que não preciso desenhar quais as personagens da DC foram inspiradas nos respectivos heróis homéricos.

      Poderia passar dias escrevendo sobre outras referências dos clássicos gregos na cultura pop, mas só com Ilíada e Odisseia passaríamos a eternidade fazendo tal exame. Agora você não tem mais desculpas para não ler os clássicos, e se alguém objetar que não vale a pena tanto esforço, citarei Cioran (não um clássico, pelo menos por enquanto):

"Enquanto era preparada a cicuta, Sócrates estava aprendendo uma ária com a flauta. ' Para que lhe servirá?', perguntaram-lhe.

'Para aprender esta ária antes de morrer' " .

Quer comprar as obras de Homero e ajudar o blog? Clique na imagem abaixo:

Nenhum comentário:

Postar um comentário

PECUAPÁ

*Lançada no abismo, este foi fechado e selado, proibindo-a de enganar as nações até o cumprimento de mil anos. Antes de se tornar um mendigo...