Como todo estudante calouro de universidade, é normal sentir-se perdido no primeiro semestre, principalmente para quem está fazendo a primeira graduação.
Bibliografia:
Introdução à Linguística Vol. I e II(Amazon)
Foi pensando nisso que resolvi fazer um resumo dos principais assuntos abordados nos conteúdos da disciplina de linguística do curso de letras da Universidade de São Paulo (USP). Mas o resumo pode servir para alunos de outras universidades ou até mesmo para quem quiser iniciar um estudo sobre linguística e precisa de alguma referencia. Os assuntos serão divididos em dois posts para não ficar muito grande, então deixarei o link da continuação no final do texto.
A Línguistica de
Saussure
Saussure
provavelmente será o nome que o estudante de letras mais vai ouvir durante todo
o curso. Ele é considerado o pai da linguística moderna, Saussure foi o
primeiro a mostrar que a língua está presente na cultura humana desde os seus
primórdios. Com ele, a linguística ganhou autonomia como
ciência.
-Língua e fala
O primeiro passo para entender Saussure, é saber o que ele
define como objeto de estudo da linguística. A língua para ele é o que guia os
estudos dessa ciência. E a define como sendo um sistema de signos, ou seja, um
conjunto de regras e convenções produzidas por uma comunidade conscientemente
ou não para estabelecer uma forma de comunicação que tem a fala como canal. A
fala é, então, a realização concreta das diversas combinações internas de uma
língua pela fonação.
-Métodos Investigativos
Saussure define dois modos de se investigar e observar a
língua, os diacrônico e sincrônico. O diacrônico busca comparar momentos
diferentes da evolução de uma língua. Enquanto que o sincrônica se importa
apenas com um momento específico da evolução de determinada língua.
A comparação entre o uso do “vossa mercê” presente em um
período da história do português e o “você” da atualidade se qualificaria como
uma análise diacrônica. Já a observação das variações do português atual,
“você” e “tu” se define como uma análise sincrônica porque a ideia de variação
admite o uso de diferentes termos no mesmo período evolutivo.
Relações sintagmáticas e paradigmáticas
Sendo a língua um sistema, ela é formada pela relação de suas
unidades internas (unidades linguísticas). Essas relações podem ser
sintagmáticas ou paradigmáticas e ocorrem por conta do caráter linear dos
significantes, ou seja, porque não é possível produzir mais de um significante
ao mesmo tempo, como exemplo, tente falar cachorro e limão ao mesmo tempo.
Não é possível, logo, com essa limitação humana, os significantes devem mudar sua posição/organização ou serem substituídos por outro.
Essa substituição constitui as relações paradigmáticas e as
opções que podem ser usadas nessa substituição são definidas por associação.
Enquanto que a organização das unidades constitui as relações sintagmáticas.
Essas relações podem ser encontradas em todos níveis
linguísticos, como no nível fonológico (fonemas formam sílabas), ou no nível
morfológico (morfemas formam vocábulos), e ainda no nível sintático (combinação
de palavras para formar uma frase).
Exemplos de relações sintagmáticas e paradigmáticas em
diferentes níveis linguísticos:
André
Matinet
André
Martinet foi um linguista francês que fez grandes contribuições para a
linguística estruturalista.
Para
Martinet, a linguagem humana é articulada de dois
modos e isso se dá porque pode ser dividida em partes menores, sendo essa a sua
principal característica, a união de elementos.
A primeira articulação é composta pelas unidades linguísticas
que carregam sentido semântico ou gramatical, os morfemas. A segunda é formada
pelas unidades linguísticas que não apresentam significado, mas fazem o papel
distintivo na linguagem.
Os fonemas são as menores unidades que não possuem significado
e dão a base expressiva para a criação dos morfemas. O papel distintivo do
fonema ocorre porque a alteração dele à outro muda o morfema. Como é o caso de
/p/orta e /t/orta, a substituição dos fonemas T ou P altera o morfema.
Os morfemas são a menores unidades portadoras de sentido na
linguagem. São considerados morfemas os elementos como raíz, afixos,
desinência, vogais e consoantes de ligação e outros.
Com a raíz “com” e os sufixos -er e
-ido, posso formar as palavras comer
e comido.
Morfemas podem ser relacionados com os signos de Saussure por
possuírem um significado e representação vocal (fonemas). Se enquadrando na
ideia de significado e significante (imagem acústica).
Hjelmslev - planos de conteúdo e expressão
Louis Trolle Hjelmslev foi um linguista dinamarquês
cujas ideias formaram a base do Círculo Linguístico de Copenhague. Hjelmslev
expande a ideia de significado e significante para algo mais complexo, as
ideias de plano de conteúdo e expressão. Para ele o signo linguístico é formado
por esses dois planos e cada um desses planos tem uma forma e substancia.
A forma é aquilo que dá identidade à algo, sendo seu valor
dado pela diferença entre elementos. E a substância é a base para se criar
essas diferenças. Tendo existência sensorial, mas não necessariamente percepção
linguística.
Sendo assim, o plano de expressão tem como substância os
fones, ou seja, os sons que são percebidos sensorialmente, enquanto que a forma
são os fonemas, que são o que é identificado linguisticamente.
Um exemplo seria a consoante rótica que possui várias formas diferentes de serem produzidas no português brasileiro dependendo da região do falante, como no RJ: /h/; SP: /r/; MG: /ɹ/. Se ouvir a versão da palavra “porta” falada por cada uma da região saberá que são pronuncias diferentes, ou seja, usam fones diversos, mas a palavra em si continua a mesma, mantendo o fonema [r]. Então, se eu trocar o fonema [r] por [n], você saberá que não é apenas uma forma diferente de se falar “porta” mas um termo diferente, “ponta”.
Já o plano de conteúdo tem como substância o pensamento
amorfo, ou seja, as ideias não formadas ainda. A sua forma é a definição ou
conceitualização de ideias por meio desses pensamentos ainda indefinidos.
O pensamento amorfo é como ter várias pessoas falando ao mesmo
tempo, você não consegue identificar quem e o que estão falando, mas no momento
em que consegue identificar quem está falando e o que, é nesse ponto que se delimitam
as pessoas e ideias, ou seja, o ato de delimitar e criar algo identificável é a
forma.
A forma do conteúdo se assemelha ao significado de Saussure
sendo o conceito definido de algo, como a de cadeira, “objeto com X
características que tem o propósito de ser usada para sentar-se”.
Benveniste e o terceiro elemento
Para Benveniste o signo linguístico não tinha arbitrariedade
na relação entre significado e significante, mas entre o signo em si o seu
referente. Esse terceiro elemento para ele seria a realidade ou experiência
sensorial.
Um exemplo de não arbitrariedade do significante seria um
número regular como “dezenove” que possui a ideia de “produto de dez mais nove”
e sendo formada por dez + vogal temática “e” + nove. Sendo assim, a arbitrariedade
da relação entre significante e significado não é sempre presente.
Cosèriu e a norma
Adiciona a ideia de norma ao esquema de Saussure de sistema e fala. Essa ideia representa os padrões que certas comunidades adotam usando a língua, ou seja, são variações coletivas dentro de uma mesma língua.
Para ler a segunda parte clique aqui.
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