quinta-feira, 14 de julho de 2022

Introdução à Linguística. I (resumo)

  Como todo estudante calouro de universidade, é normal sentir-se perdido no primeiro semestre, principalmente para quem está fazendo a primeira graduação.

Bibliografia:

Introdução à Linguística Vol. I e II(Amazon)

 Foi pensando nisso que resolvi fazer um resumo dos principais assuntos abordados nos conteúdos da disciplina de linguística do curso de letras da Universidade de São Paulo (USP). Mas o resumo pode servir para alunos de outras universidades ou até mesmo para quem quiser iniciar um estudo sobre linguística e precisa de alguma referencia.  Os assuntos serão divididos em dois posts para não ficar muito grande, então deixarei o link da continuação no final do texto.


 

A Línguistica de Saussure

   Saussure provavelmente será o nome que o estudante de letras mais vai ouvir durante todo o curso. Ele é considerado o pai da linguística moderna, Saussure foi o primeiro a mostrar que a língua está presente na cultura humana desde os seus primórdios. Com ele, a linguística ganhou autonomia como ciência.

-Língua e fala

  O primeiro passo para entender Saussure, é saber o que ele define como objeto de estudo da linguística. A língua para ele é o que guia os estudos dessa ciência. E a define como sendo um sistema de signos, ou seja, um conjunto de regras e convenções produzidas por uma comunidade conscientemente ou não para estabelecer uma forma de comunicação que tem a fala como canal. A fala é, então, a realização concreta das diversas combinações internas de uma língua pela fonação.

-Métodos Investigativos 

  Saussure define dois modos de se investigar e observar a língua, os diacrônico e sincrônico. O diacrônico busca comparar momentos diferentes da evolução de uma língua. Enquanto que o sincrônica se importa apenas com um momento específico da evolução de determinada língua.

 A comparação entre o uso do “vossa mercê” presente em um período da história do português e o “você” da atualidade se qualificaria como uma análise diacrônica. Já a observação das variações do português atual, “você” e “tu” se define como uma análise sincrônica porque a ideia de variação admite o uso de diferentes termos no mesmo período evolutivo.

Relações sintagmáticas e paradigmáticas

  Sendo a língua um sistema, ela é formada pela relação de suas unidades internas (unidades linguísticas). Essas relações podem ser sintagmáticas ou paradigmáticas e ocorrem por conta do caráter linear dos significantes, ou seja, porque não é possível produzir mais de um significante ao mesmo tempo, como exemplo, tente falar cachorro e limão ao mesmo tempo.

  Não é possível, logo, com essa limitação humana, os significantes devem mudar sua posição/organização ou serem substituídos por outro.

  Essa substituição constitui as relações paradigmáticas e as opções que podem ser usadas nessa substituição são definidas por associação. Enquanto que a organização das unidades constitui as relações sintagmáticas.

  Essas relações podem ser encontradas em todos níveis linguísticos, como no nível fonológico (fonemas formam sílabas), ou no nível morfológico (morfemas formam vocábulos), e ainda no nível sintático (combinação de palavras para formar uma frase).

  Exemplos de relações sintagmáticas e paradigmáticas em diferentes níveis linguísticos:



André Matinet

 André Martinet foi um linguista francês que fez grandes contribuições para a linguística estruturalista.

  Para Martinet, a linguagem humana é articulada de dois modos e isso se dá porque pode ser dividida em partes menores, sendo essa a sua principal característica, a união de elementos.

  A primeira articulação é composta pelas unidades linguísticas que carregam sentido semântico ou gramatical, os morfemas. A segunda é formada pelas unidades linguísticas que não apresentam significado, mas fazem o papel distintivo na linguagem.

  Os fonemas são as menores unidades que não possuem significado e dão a base expressiva para a criação dos morfemas. O papel distintivo do fonema ocorre porque a alteração dele à outro muda o morfema. Como é o caso de /p/orta e /t/orta, a substituição dos fonemas T ou P altera o morfema.

  Os morfemas são a menores unidades portadoras de sentido na linguagem. São considerados morfemas os elementos como raíz, afixos, desinência, vogais e consoantes de ligação e outros.

  Com a raíz “com” e os sufixos -er e -ido, posso formar as palavras comer e comido.

   Morfemas podem ser relacionados com os signos de Saussure por possuírem um significado e representação vocal (fonemas). Se enquadrando na ideia de significado e significante (imagem acústica).


Hjelmslev - planos de conteúdo e expressão

  Louis Trolle Hjelmslev foi um linguista dinamarquês cujas ideias formaram a base do Círculo Linguístico de Copenhague.  Hjelmslev expande a ideia de significado e significante para algo mais complexo, as ideias de plano de conteúdo e expressão. Para ele o signo linguístico é formado por esses dois planos e cada um desses planos tem uma forma e substancia. 

  A forma é aquilo que dá identidade à algo, sendo seu valor dado pela diferença entre elementos. E a substância é a base para se criar essas diferenças. Tendo existência sensorial, mas não necessariamente percepção linguística.

 Sendo assim, o plano de expressão tem como substância os fones, ou seja, os sons que são percebidos sensorialmente, enquanto que a forma são os fonemas, que são o que é identificado linguisticamente.

 Um exemplo seria a consoante rótica que possui várias formas diferentes de serem produzidas no português brasileiro dependendo da região do falante, como no RJ: /h/; SP: /r/; MG: /ɹ/. Se ouvir a versão da palavra “porta” falada por cada uma da região saberá que são pronuncias diferentes, ou seja, usam fones diversos, mas a palavra em si continua a mesma, mantendo o fonema [r]. Então, se eu trocar o fonema [r] por [n], você saberá que não é apenas uma forma diferente de se falar “porta” mas um termo diferente, “ponta”.

  Já o plano de conteúdo tem como substância o pensamento amorfo, ou seja, as ideias não formadas ainda. A sua forma é a definição ou conceitualização de ideias por meio desses pensamentos ainda indefinidos.

  O pensamento amorfo é como ter várias pessoas falando ao mesmo tempo, você não consegue identificar quem e o que estão falando, mas no momento em que consegue identificar quem está falando e o que, é nesse ponto que se delimitam as pessoas e ideias, ou seja, o ato de delimitar e criar algo identificável é a forma.

  A forma do conteúdo se assemelha ao significado de Saussure sendo o conceito definido de algo, como a de cadeira, “objeto com X características que tem o propósito de ser usada para sentar-se”.

Benveniste e o terceiro elemento

  Para Benveniste o signo linguístico não tinha arbitrariedade na relação entre significado e significante, mas entre o signo em si o seu referente. Esse terceiro elemento para ele seria a realidade ou experiência sensorial.

  Um exemplo de não arbitrariedade do significante seria um número regular como “dezenove” que possui a ideia de “produto de dez mais nove” e sendo formada por dez + vogal temática “e” + nove. Sendo assim, a arbitrariedade da relação entre significante e significado não é sempre presente.

Cosèriu e a norma

  Adiciona a ideia de norma ao esquema de Saussure de sistema e fala. Essa ideia representa os padrões que certas comunidades adotam usando a língua, ou seja, são variações coletivas dentro de uma mesma língua.

Para ler a segunda parte clique aqui.

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