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Matadouro-Cinco(Amazon), ou A Cruzada das Crianças: Uma Dança Compulsória com a Morte é um romance de Kurt Vonnegut, publicado originalmente em 1969. Considerado um clássico americano e um dos grandes romances antiguerra do mundo, a história é centrada no bombardeio de Dresden, na Alemanha, durante a Segunda Guerra Mundial. Acompanhamos Billy Pilgrim, um soldado do Exército dos EUA, que embarca em uma estranha odisseia enquanto luta para sobreviver como prisioneiro de guerra. A consciência de Billy se desprende no tempo, enviando-o para vários pontos de seu próprio passado e futuro, incluindo sua vida de casado após a guerra, anos de declínio após sobreviver a um grave acidente e o período que passou como exposição em um zoológico alienígena. Após passar por todas essas linhas temporais, ele sempre retorna às suas experiências horríveis durante a guerra.
Assim que comecei este livro, não demorou para que eu percebesse que se tratava de uma boa história, uma vez que Vonnegut gosta de mostrar logo no começo qual será o futuro de suas personagens. Isso poderia ter tornado a experiência da leitura maçante, mas me vi sugado para essa história praticamente de imediato. A obra demonstra um olhar severo sobre a humanidade, envolvida em torno de um evento histórico devastador, que também foi profundamente estranho e de alguma forma cativante e sóbrio. O senso de humor do escritor mexeu muito comigo também, tão seco e prático que tornou tanto o belo quanto o sinistro de alguma forma cômicos. Apresentado de maneira tão banal, o conteúdo mais impactante não é considerado absurdo na visão do protagonista. Isso é potencializado pela repetição de certas frases, principalmente a de “É assim mesmo” após a menção de morte ou massacre, tornando-se uma espécie de piada interna entre o texto e o leitor.
O livro tem a intenção de ser um romance antiguerra, e cumpre bem o seu papel, o primeiro capítulo contado da perspectiva do autor expressa muito de seus sentimentos sobre os horrores que viveu na guerra “… os que mais odiavam a guerra, eram os que tinham realmente combatido”. Grande parte das experiências de Billy Pilgrim são encaradas como são, sem nada romantizado, nem muita reflexão filosófica. As condições que Billy e seus colegas prisioneiros de guerra se encontram são tão terríveis, puras e simples, que falam por si. Algum otimismo pode ser notado em outras personagens no conflito, mas a experiência da guerra tem consequências claras e duradouras para os sobreviventes. Seus inimigos também são decentemente humanizados, apenas civis ou outros jovens como eles empurrados para um conflito com pouco entendimento ou poder de decisão sobre o assunto.
O mais impressionante foi a ênfase na idade da maioria dos soldados, incluindo Billy, que mal chegaram a idade adulta, mas que tinham que tomar decisões, mesmo que isso os levasse a se tornar prisioneiros ou até mesmo a morte. Um dos momentos que mais me marcou foi quando uma cachorra estava rastreando Billy e os outros sobreviventes apos a batalha que perderam. A cadela foi “emprestada” de uma fazenda próxima. A declaração de que “Ela nunca tinha ido à guerra antes. Ela não tinha ideia de que jogo estava sendo jogado” me impressionou o suficiente para que eu realmente refletisse sobre o livro por um momento. Senti que realmente se encaixava na minha visão de que os soldados não são tipicamente o que mitificamos.
Gostei mais do livro como uma meditação sobre a própria vida. As experiências de Billy na Segunda Guerra Mundial são bastante lineares, a história é uma peça em um mosaico da vida dele, da qual vemos muitas fases diferentes, todas fora de ordem. Às vezes ele retorna à sua juventude na universidade, seu tempo em um Hospital de Veteranos logo após a guerra, seus anos de declínio após uma carreira de sucesso em optometria e, o mais importante, o tempo que ele supostamente passa como uma exposição em um zoológico alienígena, levado na noite do casamento de sua filha. De longe, a parte mais estranha do livro, adorei a maneira como ele enquadrou a ideia do tempo como uma 4ª dimensão, que esses alienígenas podiam ver de uma só vez, mas os humanos não.
Matadouro-Cinco me deu uma experiência profundamente satisfatória com a leitura. O livro é exatamente o que eu esperava, frequentemente seco, sombriamente engraçado e até surreal, também é comovente, direto e sincero. Você pode se sentir incomodado com a narrativa não linear, mas se você gosta de histórias com bastante plot twist, recomendo que leia.
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